quarta-feira, 7 de agosto de 2013

ODONTOLOGIA INTRA-UTERINA



A gravidez não deve ser considerada uma doença, porém algumas particularidades devem ser reconhecidas devido a modificações físicas, metabólicas e emocionais. Sob o ponto de vista odontológico, determinadas características merecem atenção. A literatura não demonstra um aumento da incidência de cárie em mulheres grávidas. A composição mineral dos dentes da mãe não sofre alteração para formar a estrutura calcificada do feto. A gravidez também não causa gengivite. Apesar de haver uma maior vascularização do periodonto, a gravidez só afeta áreas inflamadas e não a gengiva sadia.

O fato da mulher estar grávida não deve ser motivo para adiar um tratamento odontológico. Na verdade, é um momento bastante oportuno para se estabelecer medidas de promoção de saúde. O diagnóstico de risco de cárie deve ser o mais precoce possível. Antes mesmo da criança nascer, pode-se fazer algumas predições e, através de educação e medidas que melhorem a saúde bucal da mãe, diminuir o risco de cárie do futuro bebê.

Uma das formas de se avaliar o risco de cárie do bebê é analisar a atividade de cárie da gestante, que por sua vez está relacionada, entre outros fatores, ao nível de infecção por Streptococcus do grupo Mutans (S.M.) e à dieta.

Mães altamente infectadas por S.M. tendem a ter crianças com maior experiência de cárie. Quanto mais cedo ocorrer a colonização, mais intensa e mais precoce será essa experiência. Os bebês não abrigam esses microorganismos antes da erupção dos dentes. Os trabalhos escandinavos sugerem que a transmissibilidade ocorre num período de máxima suscetibilidade de contaminação ou "janela de infectividade", que geralmente coincide com a erupção de molares decíduos. Entretanto, no Brasil, conside-rando a alta prevalência de cárie em bebês, é provável que essa contaminação aconteça mais precocemente.

A cárie passa de mãe para filho, não só pela contaminação primária, mas principalmente pela transmissão de hábitos inadequados. Dessa forma, faz-se importante um aconselhamento da dieta, tanto em termos nutricionais quanto em relação à freqüência de consumo de produtos açucarados, enfatizando que o açúcar natural dos alimentos é suficiente para suprir as necessidades da gestante e do feto. As orientações devem ainda incluir uso racional do flúor e cuidados com a saúde bucal do bebê.

A filosofia da odontologia intra-uterina é educar gestantes sobre as causas e condições em que as cáries se desenvolvem, seus meios de transmissão e, se necessário, modificar a microbiota da mãe para que se torne compatível com saúde. Por ser amplamente acessível, essa Odontologia assegura a possibilidade de se ter novas gera-ções se desenvolvendo livres de cárie e doenças de gengiva.



FLÁVIA KONISHI é coordenadora do Curso de Aperfeiçoamento em Cariologia e Prevenção da EAP/APCD - Araraquara.

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